P.E.C. Nº 227. Um carro que é uma verdadeira Lancer em África...
Os Ralis, no seu respeitável
percurso de décadas cumprido até hoje, produziram muitos automóveis
extraordinários.
O Stratos, o Audi Quattro, o 037 ou o Delta, são, entre
outros, exemplos de carros portadores de um magnetismo tremendo, transversal a
quem os viu, filmou, fotografou, cuidou, e, claro, conduziu.
Daqui a vinte ou
trinta anos, talvez venhamos a elevar o Mitsubishi Lancer, nas suas múltiplas
roupagens e EVOluções mecânicas, a um estatuto semelhante.
Referir que o
popular modelo da marca nipónica é um automóvel com singularidades muito
próprias, pode à primeira vista parecer excessivo.
Cremos que não será.
A
(inigualável) longevidade dos Lancer, cujo início de vida competitiva nos Ralis
remonta a 1993, é um primeiro fator de destaque sem paralelo que
necessariamente é de realçar.
Nestes vinte anos e nas suas dez evoluções, o
carro sempre soube atualizar-se e manter-se competitivo perante a concorrência,
a ponto de ainda hoje somar títulos onde marca presença (com especial enfoque
no agrupamento de produção) nas competições por esse mundo fora.
Outro dos
aspetos em que o Lancer se notabiliza é pelo facto de já ter sido muitas
coisas na vida.
Já foi ‘grupo A’, e nessa qualidade campeão do mundo de
pilotos e equipas.
Foi depois ‘WRC’, mas sem a tutoria de Tommi Makinen
submergiu num remoinho competitivo de onde nunca mais foi resgatado.
E
foi, é, e irá continuar a ser ‘grupo N’, a identidade que melhor se
ajusta à sua pele e a designação onde está contida fatia importante da sua
popularidade em todo o mundo.
Diz quem sabe, que os EVO oferecem uma relação
custo/performance difícil de equiparar.
Pessoas ligadas à manutenção de carros
de Ralis afirmam-nos que são extremamente fiáveis e simples na compreensão da sua
mecânica, pelo que não carecem de tantos cuidados como outros carros
concorrentes diretos, sendo em simultâneo fáceis de afinar.
Diz quem sabe,
também, que a enorme quantidade de Lancers a competir nos quatro cantos do
planeta permite encontrar peças, novas ou usadas, com grande facilidade, fator
primordial na sua assistência e reparação.
Estes predicados, somados, são
importantíssimos na afirmação destes Mitsubishi como produto muito válido para
fazer Ralis com garantias de competitividade.
Há, porém, um outro aspeto (de
ordem estética) deste modelo do construtor japonês que nos parece interessante
salientar.
Com homologação atualizada, estamos em crer que os EVO são hoje os
únicos carros no formato sedan a
fazer competição ao mais alto nível, personificando, como nenhum outro, a ponte
entre o classicismo e a modernidade.
Até início dos anos noventa era comum
vermos carros com três volumes
a desempenhar papéis de relevo na modalidade.
Eram modelos de formas angulosas
e dimensões respeitáveis, que se foram popularizando numa época de
democratização do automóvel como símbolo de ascensão social.
Os Ralis do
campeonato do mundo iam ao encontro dessa tendência, e durante anos viram-se
evoluir nas mais conhecidas classificativas do mundo carros com um certo ar de
chefe-de-família, como o Toyota Corolla, Toyota Celica Twincam Turbo, Nissan
240 RS, ou, mais tarde, o saudoso BMW M3.
O mercado automóvel viveria nesses
anos um período de franca expansão e criatividade.
Os Ralis, enquanto montra
privilegiada de produtos automóveis, seguiriam as tendências de mercado indo ao
encontro de um público mais jovem.
Em poucos anos os familiares de três volumes
foram paulatinamente dando lugar a automóveis com o formato hatchback (catalogados no segmento ‘C’), tendência visível nos Corolla e Focus WRC, com a etapa seguinte, iniciada,
pensamos, com o Peugeot 206 WRC, a olhar para os utilitários como o paradigma
de carros de Rali para o século XXI, processo materializado hoje com os Polo,
Fiesta e DS3 WRC.
Os nipónicos com presença duradora no WRC foram resistindo.
A
Mitsubishi e Subaru, avessas a modas, prosseguiram com as inúmeras evoluções
dos seus Lancer e Impreza, sempre sob o formato três volumes do denominado
segmento 'D', até que em 2008 os homens dos carros decorados a azul sucumbiriam,
também eles, à ditadura do mercado, apresentando um contranatura hatchback que ironicamente viria a
tornar-se o estertor da sua presença no campeonato do mundo de Ralis.
A
Mitsubishi apostou na estratégia contrária, mantendo-se fiel ao formato sedan
nas dez evoluções do seu Lancer de competição, a ponto de se tornar hoje no
último dos moicanos na arte de construir carros de Rali com uma bagageira bem
proeminente.
Aos EVO ligam-nos também questões ao nível dos afetos.
Foi aos
comandos destes carros que assistimos e vibrámos com a aventura de Rui Madeira
e Nuno Rodrigues da Silva na Taça FIA de grupo ‘N’ em 1995.
Foi com este modelo
que durante meia-dúzia de anos, quer no Rali de Portugal, quer no campeonato
nacional, Miguel Campos proporcionou-nos exibições extraordinárias medindo-se de igual para igual com concorrência melhor equipada.
As maiores epopeias dos Ralis portugueses
foram escritas em 2009 e 2010 por Armindo Araújo e Miguel Ramalho tripulando estas máquinas.
O campeão nacional de Ralis em título é ainda, recorde-se,
precisamente um Mitsubishi Lancer, superiormente pilotado por Ricardo Moura nas
últimas duas temporadas.
E já que falamos na lenda dos Lancer, há ainda… Ricardo
Teodósio!
A FOTO EXIBIDA NO PRESENTE TRABALHO FOI OBTIDA EM:
- http://www.mitsubishi-motors.com/motorsports/e/wrc_e/97portugal/l12.jpeg
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